segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ainda sobre aquele assunto

O tema dos professores que não se solidarizam com os colegas demitidos não me saiu da cabeça - ainda mais porque (deve ser por isso exatamente) passei a tarde revisando um texto de Sociologia sobre como as ideias do Fordismo-Taylorismo se aplicam, não só às relações de trabalho, mas também a nossa vida cotidiana e a nossos relacionamentos. Pronto: era isso! O imediatismo, a rapidez e a impessoalidade saíram das fábricas para serem também um modo de vida.
Aí, a minha ex-aluna e amiguinha Ísis me recomendou um texto do Max Gehringer sobre esse assunto: a frustração que os que saem de uma empresa sentem quando percebem que seus (ex) colegas não são mais seus amigos. Diz o Gehringer, na sua visão RH (detesto RH e suas teorias), que não se deve confundir relações profissionais com amizades pessoais. Bom, então, e quando uma relação profissional é uma amizade pessoal? E quando a gente devota afeto, admiração, essas coisas que a gente tem pelos amigos? E, vá lá, eram só relações profissionais, tudo bem - mas qual é o problema de se agir humanamente com o colega? 
Não estou reduzindo o problema a professores, mas insisto neles porque, primeiro, eu sou professora há 20 anos e conheço esse universo; segundo, porque (representantes das outras profissões que me desculpem qualquer exagero no enfoque) um professor sempre deixa um pouco da sua vida numa instituição de ensino (ah, nas outras profissões também é assim? ok, mas quero seguir falando dos profes e suas agruras). Poucas profissões (creio que médicos também, talvez) demandam tanta energia física, mental e emocional como dar aulas: lidar com gente (muita gente ao mesmo tempo geralmente) é extremamente estressante. Um médico recebe, quando não a  gratidão de seus pacientes tratados, o respeito por seu conhecimento e sua capacidade de diagnosticar, tratar, curar; um professor, raramente. O retorno se dá na crença de haver feito bem o trabalho, de haver partilhado conhecimento, de ver - anos depois - ex-alunos bem encaminhados, tocando suas vidas. No durante, no dia a dia, a gente dá aulas, muitas vezes, para vários que conversam como se em bar (já tive a impressão, ao passar por um grupinho desses na aula, de que iam me pedir uma Polar), moças que lixam as unhas (na sala de aula, quero dizer), rapazes que ouvem música nos seus fones de ouvido  disfarçados na cabeleira, outros que estão com seus laptops abertos à frente, mas conversando no msn ou olhando o orkut de alguém e, sim, claro, para uns dois ou três interessados. Quantas vezes preparei textos ótimos, que ninguém leu ou, se leu, nem deu bola? Quantas vezes fiquei horas elaborando um exercício para avaliar um conteúdo que ninguém estudou porque não valia nota? Quantas vezes falei apaixonadamente sobre um assunto da matéria e, ao pedir comentários dos alunos, ouvir apenas "isso cai na prova?"  ou  "vai ter aula dia tal?"? Quantos finais de semana deixei de brincar com meu filho para corrigir provas, elaborar aulas, produzir materiais? Tenho essa profissão  porque gosto; o que não gosto é que confundam escola com empresa - porque não é; aluno com cliente - porque não é, e professor com executivo/marqueteiro da instituição - porque não é; eu, ao menos, nunca vou ser. E ao diabo com Fordismo-Taylorismo nos relacionamentos!

Um comentário:

  1. Esse tem sido o meu problema com a Faculdade nesses tempos - eu ando louca para acabar o curso, não por causa dos professores, mas por causa dos alunos. Irrita MUITO quem chega na faculdade por chegar e que termina por terminar. Ler é um grande sacrifício. Nunca te aconteceu de dar um texto e a primeira coisa que o aluno faz é ver quantas páginas tem? Eu já senti vergonha e MORRIA de medo que o professor me confudisse no meio daquela multidão. Dá vontade de levar uma plaquinha dizendo: Eu não sou assim. Juro.
    Isso, muitas vezes, é motivado pela própria instituição de ensino. Já ouvi de profesores coisas como: "você tem que ser melhor que o seu colega, porque no mercado de trabalho ele vai querer a sua vaga", como se o não houvesse lugar para tanta gente assim. Isso estimula a competitividade, falta de empatia e a falta de interesse. A faculdade é "vendida" como o único caminho para uma carreira plena e cheia de sucesso, o que torna um ótimo negócio "fazer" um diploma, mesmo que a sua vocação não seja bem essa. Ensino fast food estimula relações fast food, também. Você já vai para a aula com o cartãozinho da empresa, vai que precisam de algum serviço seu? Medo eterno dessa gente.


    Meu Deus, comentário enorme.
    Beijos,

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