quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ser professor? É bem capaz...

A proposta  de redação do vestibular da UFRGS deste ano trouxe para  discussão um assunto árido, para dizer o mínimo: por que os jovens têm cada vez menos interesse em ingressar em cursos que formam para a carreira docente? O tema foi imperativo: "avalie por que a profissão de professor se encontra desprestigiada entre os jovens",  e mostrou tabelas com os índices de ofertas de vagas e números de candidatos  nos anos de 2005 e 2011, período em que caiu pela metade o número de interessados nos cursos de licenciatura das mais variadas áreas (os que formam docentes). Trouxe, ainda, dados de uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas, de 2009, em que 1501 jovens do Ensino Médio  do Rio de Janeiro manifestaram-se sobre a "atratividade da profissão de professor": 67% deles disseram "não, ser professor não tem nenhum  atrativo".
Quem elaborou a proposta colocou milhares de jovens (cerca de cinquenta mil candidatos prestam vestibular na UFRGS) a pensar num assunto sobre o qual  - provavelmente - a maior parte deles nunca pensou. Alguns, na hora da prova, devem ter pensado, imagino: "Ser professor?  É bem capaz que eu vá querer ser; não quero ser profe pela mesma razão que não quero ser balconista: ficar atendendo aluno e ganhar uma merreca....". No entanto, esses jovens, recém saídos do colégio  (alguns ainda no colégio), tiveram que pensar alguma coisa para dizer, e alguma coisa minimamente inteligente e bem articulada - além de gramaticalmente correta, pois passar na prova de redação não é fácil - eu sei porque fui avaliadora da UFRGS por 14 anos.
A redação da UFRGS é uma prova em que, dado um tema, o candidato deve defini-lo - ou seja, reproduzir a questão ali colocada, mas com suas palavras; analisá-lo - fazer uma reflexão acerca dele, relacionando-o a aspectos teóricos ou práticos da realidade, e concluir com alguma coisa nova, demonstrando sua capacidade de autoria - ou seja, fugindo do clichê e do senso comum.  Vejam só o que foi a bomba que puseram nas mãos desses guris!!
Fico imaginando alguns indignados: "putz, que sacanagem, quem vai corrigir isto é um professor; que que eu vou dizer?...". Também imagino os professores de Educação Básica, ao verem a proposta,  mal disfarçando um sorrisinho irônico: "he he he, falem mal de nós agora!"...
Piadas à parte, o certo é que esse tema causou  - certamente -  algum mal-estar; no mínimo, algum desconforto relacionado com alguma questão ética. Muitos dos que estavam ali fazendo a redação foram, devem ter sido sinceríssimos ao dizer o óbvio:  que professor trabalha muito, ganha pouco, não tem nenhum prestígio na sociedade; costuma ser visto como um pobre diabo que leva desaforo de todo mundo: de  aluno, de pai de aluno, de patrão, no caso do professor da rede privada; da mídia, que adora culpar o professor pelo fracasso escolar, pela evasão, pelo baixo IDH do Brasil. Sim, muitos sentiram-se desafogados dizendo o que todo mundo sabe; entretanto, esses muitos aí  - quero crer - devem ter ficado com uma ideiazinha  perturbando: "cheguei até aqui guiado por professores e, se eu entrar na universidade, vou sair com um diploma, mas vou passar antes por vários professores, esses que eu chamei de pobres diabos... Bah, que chato...".
Que coisa, não? Mas, al fin y al cabo, por que é mesmo que a profissão de professor se encontra desprestigiada entre os jovens? O aspecto remuneração não é motivo, pelo menos está longe de ser o principal; salário de professor sempre foi baixo (aqui e em quase tudo quanto é lugar). Além do que, há profissões com remuneração inferior à de professor que não sofrem essa falta de prestígio. A de  jornalista é um exemplo: o piso da categoria, em Porto Alegre, é em torno de R$1500,00, mas quem é que diz que ser jornalista não é interessante? Ah, mas tem o status, o glamour - ou seja, o prestígio (para fugir dos estrangeirismos).Ora, status têm a Fátima Bernardes (e o marido), o Caco Barcellos, o Boechat, o Bial, o Tatata Pimentel, o David Coimbra, o Juremir - sem avaliações, aqui, sobre a qualidade do que fazem, escrevem e dizem. São figuras famosas, cujas imagens extrapolam o simples jornalismo, o cotidiano das salas de redação de jornais.
Mas, enfim, por que os jovens não querem saber de serem professores? Se tiverem alguma ideia, ajudem a elucidar a questão.

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