domingo, 23 de janeiro de 2011

Piada da fronteira

Estou passando férias aqui na fronteira sul, onde morei na infância e parte da adolescência. É uma região que já viveu tempos mais generosos, quando era a maior produtora de arroz e carne do Estado. Hoje, não bastando a perda do posto, ainda sofre com recorrentes estiagens que provocam enormes prejuízos aos pequenos produtores que restaram (os antigos grandes - se não viraram pequenos- foram produzir em outras regiões ou mudaram de ramo). De modo que, as cidades da região continuam tão pequenas quanto antes: não mudaram muito desde a época em que eu vivia aqui (vão-se quase 3 décadas); só o que há de novo são as lojinhas de bugigangas inúteis de Taiwan e de roupas de má qualidade. No extremo sul, na fronteira propriamente dita (é um canteiro no meio da rua que separa o Chuí do Brasil do Chuy do Uruguai) agora tem lojas de importados sem impostos, as Free Shops, que atraem turistas e muambeiros brasileiros, mas isso pouco serviu para incrementar a cidade economicamente, pois os recursos não ficam aqui. Além do que, se por um lado, o povo não sabe aproveitar e atender a demanda turística  (são pouco hospitaleiros, há precariedade nos poucos serviços oferecidos), por outro, perto daqui - Punta del Diablo, Punta del Este - há muito mais atrativos para os turistas, que acabam fazendo da região um ponto de passagem apenas - onde compram uns eletrônicos, uns uísques e uns perfumes importados e rumam para locais mais agradáveis e sofisticados.
Bom, apresentado cenário, vou contar a piada, verdadeira, cujo mote é - justamente - a seca que está assolando a região.
Um ônibus pinga-pinga, como a maioria dos região, rumava de Santa Vitória do Palmar para Curral Alto, uma localidade no meio rural. Entre os passageiros, um gauchão falando altíssimo (comentário à parte: o povo daqui tem o costume, sabe-se lá por quê, de falar quase aos gritos) a respeito da desgraça do momento: a seca que está está liquidando  as lagoas da região, a Mirim e a  Mangueira, e, por consequência,  as pequenas plantações e as criações. De volta ao ônibus: no caminho, entra uma moça, magra, muito magra. E o gauchão, discorrendo sobre o sofrimento  que a meteorologia vem infligindo ao povo dali - e os outros passageiros, já cansados do assunto do gaudério, quietos.  Lá pelas tantas, justamente após a moça magra embarcar, o gauchão insiste, a todo volume:  - Mas, até onde será que vai essa seca? - Ao que a magra prontamente responde: - Aonde eu vou não te interessa, filho #&*#!@#**$¨*; eu é que pago minha passagem; tu não tens nada a ver com a minha vida!!!
De fato,  o povo daqui não é exatamente carismático ou bem-humorado, o que não impede que renda alguma  piada às vezes...

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