segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Professor esquece rápido?

Uma das grandes decepções que tive foi, quando mais jovem, fui demitida de uma escola em que trabalhava há anos. Claro, ser demitida é decepcionante  (e o pior é aquela dúvida: a demissão foi injusta ou eu não sou competente mesmo?... ).
Mas a "grande" decepção que eu mencionei não foi da demissão em si; claro que sofri com isso também, mas a história aqui é outra. Eu me decepcionei terrivelmente com meus colegas. Durante os anos em que trabalhei naquela escola, fiz amigos de quem gostava muito. Nós nos víamos todos os dias, trocávamos impressões sobre tudo (os períodos de recreio, nas escolas, são momentos catárticos; 15 minutos em que abordam temas que vão da última entrevista do Maffesoli até a novela de ontem  à noite), saíamos juntos para os barzinhos - ou seja, eu acreditava que tinha um grupo, naquele lugar, ao qual pertencia. Acreditava, mas não.
Quando fui demitida, fiquei esperando os telefonemas de consolo dos meus amigos-colegas. NINGUÉM telefonou. Até encontrei esses colegas (hoje são só ex-colegas) depois, e houve cumprimentos afetuosos, perguntas (como é que tu tá? soube que tás trabalhando em tal lugar... te casaste de novo?...), eu respondia a tudo, perguntava também, abraçava também, mas com um diabo vingativo na cabeça me mandando dizer: "traidores", "falsos amigos"...
Depois disso, trabalhei em vários outros lugares - professor da rede privada de ensino é uma espécie de peão da educação: divide suas 50 e poucas horas semanais de trabalho  (em média) em duas ou três escolas, ou mais, ao mesmo tempo. E aprendi a tomar o cuidado de, ao saber da saída de algum colega da instituição,  mesmo não tendo muita relação com ele ou ela, telefonar e tentar transmitir um pouco de solidariedade nesse momento, que é, costuma ser  de grande solidão.
Lembrei desse episódio da  demisão  - e da ausência de companheirismo de meus colegas -  dias atrás. A M., minha amiga de tempos (por sinal, fizemos amizade em uma escola em que trabalhamos juntas, foi minha primeira escola), foi demitida da faculdade em que lecionava e, também, na tristeza por que estava passando, aguardou o contato dos colegas com quem ria nos intervalos (ela é uma figura divertida e alegre); claro que ninguém ligou. Ela é que parou de esperar o compadecimento dos já ex-colegas e  telefonou para alguns, não para contar da demissão (todos sabiam), mas para dizer que estava procurando trabalho e que se alguém soubesse etc.
E aqui fica minha dúvida-reflexão: o que será que acontece? O professor esquece rápido os amigos? Inconscientemente (ou não) desconsidera quem deixa de ser colega? Sente culpa pelo colega que foi demitido (já que ele não foi)? Sei lá, só sei que dói quase tanto quanto a própria demissão.

2 comentários:

  1. Fátima,
    Tem um texto do Max Geringer que fala exatamente sobre essas relações profissionais que se acabam quando a pessoa é desligada:
    http://estou-sem.blogspot.com/2010/09/voltei-minha-ex-empresa-e-ninguem-me.html

    São poucas as relações de trabalho que duram e, muitas vezes, quam sai da empresa é visto como "inimigo", "traíra", etc. Vida dura.

    Querida, ADOREI que tens um blog. Sempre queria saber sobre as tuas idéias. Tenho um blog há 6 anos e, pior, vicia.

    Continua escrevendo, vou colocar teu link nos meus, lá.
    Um grande beijo,
    Ísis

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  2. Ísis! Que bom te ver por aqui! Há tempos eu andava com a ideia de um blog; agora, me animei. Vou ver o texto do Gehringer (ele tem uma visão bem interessante sobre essas coisas) e o teu blog, claro. Bj, fali

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