segunda-feira, 14 de março de 2011

Os pilatos e os desbocados

Não sou religiosa, pelo simples fato de que tive pais que seguiam, com fé e convicção, religiões bem diferentes: pai muçulmano (sunita radical, caso isso não seja um pleonasmo) e mãe católica (dos católicos oriundos da Peninsula Ibérica, praticamente ex-queimadores de hereges). Eu e meus irmãos aprendemos que todas as religiões são boas e más a seu tempo, que não faz muita diferença seguir uma ou outra - ou não seguir, como é meu caso -  desde que se seja correto, não se faça mal aos outros e se batalhe por justiça e harmonia, o que, acho, é o que os religiosos em geral pregam.
No entanto, gosto muito de ler sobre as religiões e os livros sagrados - meu mestrado, por exemplo, é sobre a relação entre o discurso bíblico e a obra de uma poeta brasileira. É que  os livros sagrados, a Bíblia, por exemplo, trazem histórias que podem ser aplicadas diariamente na nossa vida; deve ser porque o homem comete atavicamente os mesmos erros, provavelmente  para que sempre esteja se deparando com suas fraquezas e seu senso de justiça. Uma história bíblica de que gosto muito é a do sujeito que, para não se comprometer numa decisão importante (importante para salvar uma vida, inclusive) optou por não se envolver. Todo mundo sabe que se trata do Pilatos, o cara que, sendo uma espécie de juiz, deixou crucificarem Jesus mesmo sem ver culpa no cartório; a expressão que ele usou (ou atribuída a ele), o "lavar as mãos", é metáfora corrente na vida política e na vida comum; é o famoso "tirar o meu da reta".
Bem, o que que tem isso? É que escrevi justamente porque queria dizer algo que não sei se já verbalizei alguma vez: eu detesto os pilatos do cotidiano! Detesto aqueles que dizem "não gosto de me envolver", "se eu falar pode ficar mal para mim", "eu não concordei, mas não quis me meter  porque, afinal, não era diretamente comigo"... E como tem disso;  como tem criaturas que, mesmo diante de injustiças, ainda lavam as mãos na hora em que a única coisa a fazer seria dizer algo firme e justo; nessa hora, calam ou  jogam a incubência a outros; assim, descomprometem-se e ficam de bem com todos.
E conseguem agir assim a vida toda? Geralmente, sim, porque, perto dessas pessoas, sempre há um desbocado, alguém que não se importa em não ficar de bem com todo mundo - porque valoriza muito mais ficar de bem com sua consciência e sua dignidade. (Digo "desbocado" porque geralmente a atitude em questão é verbal.) Estes acabam sendo, para aqueles, os "bodes expiatórios"; o nome - nem todos que  usam sabem - vem da tradição judaica (olha os livros religiosos aí de novo) e refere-se ao animal que era escolhido, em um ritual,  para ser abandonado no deserto carregando simbolicamente todos os pecados do povo. E é essa a função dos desbocados: ao dizer o que outros não dizem, passam a carregar o estigma que é - na nossa sociedade hipócrita - ser considerado um desagregador.

Exemplo: dia desses, num grupo de amigos, um deles, que converteu-se há pouco tempo aos princípios do veganismo - alimentação natural, sem nada de origem animal, para quem não sabe - disse que não participaria de um encontro do grupo porque não suporta ver gente devorando (foi a expressão que ele usou) animais indefesos. Eu, que como um frango e um peixe de vez em quando, e um naco de costela bissextamente, me senti um T-Rex com os dentes cheios de sangue - imagino como se sentiu o resto da turma, os que comem, todo domingo, churrasco mal passado!  Mas fui eu quem falou; me senti na obrigação de dizer que, ainda que os valores dele sejam legítimos e superbacanas, o mundo é feito de diversidade, e respeitar a diversidade é a chave para a paz etc. Resumindo, fui tratada com sarcasmo (ou seja, grosseria velada), respondi num tom a exigir respeito, batemos boca e ficamos de mal (ao menos, eu fiquei).
O curioso é que pouquíssimos dos outros que participaram da discussão -  dois ou três, num grupo de uns dez ou mais - se manifestaram, mas mais para acalmar os ânimos, não para dizer àquele cara que, por exemplo, ele vive nos enviando mensagens sobre matança ilegal de baleias não sei onde, arrecadação de fundos para um asilo de cães abandonados,  abaixo-assinados pelos golfinhos (ou pinguins) de algum lugar remoto,  mas é incapaz de conviver pacificamente com gente!
Alguém tinha que dizer alguma coisa a ele, mas quem? Eu fiz, disse-lhe o que achava  e não me importei com ter brigado com ele: não me interessa ter um amigo que não me respeita. E, se o fato de eu comer carne o choca, lamento - eu não sou tão sensível: eu me choco com quem mata criança, com quem rouba dinheiro público, com quem bate em mulher.
Voltando aos pilatos, esse grupo de amigos (???)  fez seu papel de juiz da Judeia: todo mundo ficou de bem com todos; eu - desbocada - fiquei como a antipática desagregadora.  Não estou chateada, primeiro porque aprendi há tempos que amigos são falíveis, já que são humanos; segundo, porque prefiro que lembrem de mim pelo que digo, não pelo que calo. C'est la vie...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Santa Rosa de Lima fechou...

O Colégio Santa Rosa de Lima encerrou suas atividades, fechou suas portas após quase 50 anos de atuação na educação em Porto Alegre. Que pena! Era um pequeno grande colégio, grande nas propostas pedagógicas pretendidas e (muitas vezes) implantadas com sucesso, em sua forma de administração (era uma fundação de pais), grande - sobretudo - no clima que sempre houve lá dentro: de parceria  e amizade entre pais, alunos e professores; de profissionalismo e dedicação dos seus professores.
Trabalhei lá por cinco anos, no início dos anos 2000. A instituição já estava em crise financeira, já tinha poucos alunos (pelo menos para atender às despesas todas), mas foi uma grande experiência para mim como professora e, certamente, para todos que por lá passaram.
Quando eu dizia que trabalhava lá, sempre alguém dizia: "Que legal! É uma escola moderna, democrática, não?". Sim, era. Meus alunos eram filhos de intelectuais, de artistas, de pessoas engajadas politicamente, ou simplesmente de pessoas que acreditavam num modelo de educação leiga, moderna, democrática e  afinada com o andamento da sociedade. Muitas vezes reencontrei aqueles alunos, e sempre fiquei orgulhosa de vê-los, como gente "do bem",  inseridos no mundo, atuando  nele, então como médicos, biomédicos, biólogos, pedagogos, artistas, designers, escritores, advogados, administradores...Muitos deles, tenho certeza, se pudessem, matriculariam seus filhos naquele colégio porque foram felizes lá, porque saíram de lá  aparelhados para o mundo lá fora, e esse mundo os recebeu bem.
Tive também colegas brilhantes e, com eles, experiências maravilhosas em educação. Muitos desses colegas foram saindo aos poucos, geralmente mal compreendidos por direções não afinadas com a proposta que se tinha. Porque houve, sim, experiências desastrosas: diretores "nada a ver" com aquele ambiente, propostas que não vinham ao encontro do trabalho árduo (como, de resto, é o trabalho na educação) mas gratificante para todos, que se fazia lá.  Essas mudanças e esses experimentalismos foram, aos poucos, afastando as famílias que tinham seus filhos lá, afastando possíveis novos alunos e afastando, até, professores, que não conseguiam ver a luz no fim do caminho que estava sendo seguido.
Que pena tudo isso! Uma cidade como Porto Alegre não deveria perder uma escola como o Santa - nenhuma cidade deveria, mas digo Porto Alegre porque essa escola é muito significativa na história cultural e educacional desta cidade.
Aline, Carol, Diego, Ieve, Iana, Fabíola, Laura, Lucas e tantos outros alunos que eu tive lá: vocês passaram por uma grande escola. Simone, Fernando, Marcelo, Lívia, Claudinha, Bernadete, Sani e tantos outros (ex) colegas professores: nós passamos por uma grande escola!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sempre o Grande Sertão!

Desde os vinte anos, quando li pela primeira vez  Grande Sertão: Veredas, tenho uma certeza: é o mais belo romance que já li. Há personagens inesquecíveis em outras obras, há enredos super bem bolados em outros textos, narrativas incríveis de outros autores - mas o Grande Sertão está, sei lá, acima, noutra dimensão em relação a isso tudo.
Na primeira vez que li, foi uma leitura de quem estava começando a conhecer o autor, estava estudando-o na universidade, mas o professor não se deteve muito; eu só fui ler porque achava que minha obrigação, como estudante de Letras, era ler de tudo (hoje, meus colegas do pós-graduação, mestrandos e doutorandos, mal conhecem os grandes nomes da literatura brasileira...). Na segunda vez que li, já estava no Mestrado - e aí foi um pouco diferente. Primeiro porque li para a disciplina da Profa. Kathrin Rosenfield (uma alemã especialista em Guimarães Rosa!!!), e a cultura dela abriu muitas portas para uma leitura muito mais rica. Segundo, porque - entre as duas leituras - eu havia lido o Tao-te King, considerado "a mais alta expressão do pensamento chinês", um pequeno compêndio sobre filosofia zen budista. Qual é a
relação?  Bom, há um provérbio zen que diz: "só encontrará sua vida aquele que a perdeu". E esse é o tema do livro; é história de um homem que está contando sua história, fazendo-nos viver com ele (e com o oculto interlocutor) as suas andanças - as boas e as más. É a história do sujeito que perde tudo algumas vezes - o que nos faz refletir sobre a dimensão que damos à palavra tudo - e precisa contar para entender. Sobretudo, é a história de um amor improvável, renegado, mas  (ao final descobre-se) não impossível.
Assim como se diz que a estrutura do cartesianismo deve ser reduzida a cinzas para se entender o Zen, o mesmo deve ser feito para se ler - e entender - o Grande Sertão: deixar-se levar, deixar-se dominar pela história fascinante que se passa no mais árido sertão - árido não só no clima, mas na vida que tem quem vive lá.
Estou tratando dessa obra porque, há anos (final dos anos 80, início dos  90, creio), a Rede Globo lançou a minissérie Grande Sertão: Veredas, com Tony Ramos e Bruna Lombardi  interpretando os melhores papéis de suas vidas. E eu, comprando filmes  para o meu filho, dias atrás, achei o pacote com a minissérie em 4 dvd's. Rever uma minissérie não é reler o livro (isso eu faço ao menos uma vez por ano há anos), mas é uma experiência muito legal, pois é uma obra bem feita, com bons atores, cenários incríveis, um excelente  trabalho de linguagem - e conseguiram captar as melhores cenas do livro. A Bruna Lombardi está impagável no papel do jagunço Reinaldo/Diadorim - e Tony Ramos mereceria o Oscar pelo papel do Riobaldo. O diretor Valter Avancini fez um bom trabalho, que eu agora posso rever quando quiser. Deixo algumas frases, das muitas maravilhosas falas/reflexões filosóficas do narrador Riobaldo. Obrigada, GuimarãesRosa!

Coração da gente - o escuro, escuros...
Estou esperando o nada virar coisa... (Essa eu amo!)
Que o que gasta, vai gastando  diabo, aos pouquinhos, dentro da gente, é o razoável sofrer. E a alegria de amor...
...tudo o que é bonito é absurdo...
O senhor sabe: o perigo é viver...
No mato, o medo da gente sai ao inteiro.
O senhor ache e não ache. Tudo é e não é ...
Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.
Deus é paciência. O contrário é o diabo.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.
A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?
Quem-sabe, a gente criatura ainda tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?
O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo.
Quem desconfia fica sábio.
Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência.
O espírito da gente é cavalo que escolhe estrada.
Medo, não, mas perdi a vontade de ter coragem.
Eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! (...) Este mundo é muito misturado ...
Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.
A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Preto é preto? branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade.
No centro do sertão, o que é doideira, às vezes, pode ser a razão mais certa e de mais juízo!
O sertão é dentro da gente.
Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.  (Esta eu amo também.)
Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
Um sentir é do sentente, mas o outro é o do sentidor.
Obedecer é mais fácil do que entender.
Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem.
Rir, antes da hora, engasga.
Ao que não havia mais chão, nem razão, o mundo nas junstas se desgovernava.
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
Viver é muito perigoso, e não é não.
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. (Esta é maravilhosa...)
Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo. (Quando Diadorim morreu.)
O diabo não há. Existe é homem humano. Travessia. (O final!)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Kriptonita

É fato: todo super-herói tem seu ponto fraco - desde Aquiles e seu calcanhar até as Meninas Superpoderosas. Eu quero tratar de um caso  em especial: sempre achei curioso que o Super-Homem fosse vulnerável justamente a um elemento do seu próprio planeta, a kriptonita.
Ok, quando eu lia gibis da Liga da Jutiça, nos anos 70, aprendi que o planeta do rapaz explodiu devido à radiação desse elemento, e só o o filho de Jorel se salvou porque foi enviado numa nave à Terra - o bebê seria o Super-Homem.  Mas  a explicação da kriptonita e seus efeitos sobre o SH, não sei bem,  nunca me convenceu muito; enfim, eu continuava achando estranha essa relação planeta natal/fragilidade, até que, há pouco tempo, lendo um texto sobre psicologia e relações familiares, o tema surgiu. O autor, cujo nome não recordo agora, usava justamente a expressão "metáfora da kriptonita" para dizer que muitos indivíduos, habitualmente seguros e autoconfiantes, desmoronam emocionalmentte quando encontram ... sua família. Uma das razões por que gosto de psicologia é que ela nos libera da culpa (a maior praga que a cultura judaico-cristã nos deixou). Quem é que  diz - sem o respaldo dos estudiosos da psiqué  e sem culpa - que quase sucumbe após um almoço de família?  Que toma um porre (ou um calmante ou vai meditar, dependendo do estilo) depois de um encontro com pais, irmãos, cunhados, sobrinhos...? Pois eu só dizia para minha terapeuta - e  com culpa! É bom saber que podemos amar, mas mantermos uma certa distância pelo bem de todos!
Depois dessa leitura (ok, vou procurar o livro e citar o autor), passei a ter alguma simpatia pelo Super-Homem, uma espécie de afinidade, sei lá.
(E amanhã retorno a PoA: já estou há uma semana com a família...)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Piada da fronteira

Estou passando férias aqui na fronteira sul, onde morei na infância e parte da adolescência. É uma região que já viveu tempos mais generosos, quando era a maior produtora de arroz e carne do Estado. Hoje, não bastando a perda do posto, ainda sofre com recorrentes estiagens que provocam enormes prejuízos aos pequenos produtores que restaram (os antigos grandes - se não viraram pequenos- foram produzir em outras regiões ou mudaram de ramo). De modo que, as cidades da região continuam tão pequenas quanto antes: não mudaram muito desde a época em que eu vivia aqui (vão-se quase 3 décadas); só o que há de novo são as lojinhas de bugigangas inúteis de Taiwan e de roupas de má qualidade. No extremo sul, na fronteira propriamente dita (é um canteiro no meio da rua que separa o Chuí do Brasil do Chuy do Uruguai) agora tem lojas de importados sem impostos, as Free Shops, que atraem turistas e muambeiros brasileiros, mas isso pouco serviu para incrementar a cidade economicamente, pois os recursos não ficam aqui. Além do que, se por um lado, o povo não sabe aproveitar e atender a demanda turística  (são pouco hospitaleiros, há precariedade nos poucos serviços oferecidos), por outro, perto daqui - Punta del Diablo, Punta del Este - há muito mais atrativos para os turistas, que acabam fazendo da região um ponto de passagem apenas - onde compram uns eletrônicos, uns uísques e uns perfumes importados e rumam para locais mais agradáveis e sofisticados.
Bom, apresentado cenário, vou contar a piada, verdadeira, cujo mote é - justamente - a seca que está assolando a região.
Um ônibus pinga-pinga, como a maioria dos região, rumava de Santa Vitória do Palmar para Curral Alto, uma localidade no meio rural. Entre os passageiros, um gauchão falando altíssimo (comentário à parte: o povo daqui tem o costume, sabe-se lá por quê, de falar quase aos gritos) a respeito da desgraça do momento: a seca que está está liquidando  as lagoas da região, a Mirim e a  Mangueira, e, por consequência,  as pequenas plantações e as criações. De volta ao ônibus: no caminho, entra uma moça, magra, muito magra. E o gauchão, discorrendo sobre o sofrimento  que a meteorologia vem infligindo ao povo dali - e os outros passageiros, já cansados do assunto do gaudério, quietos.  Lá pelas tantas, justamente após a moça magra embarcar, o gauchão insiste, a todo volume:  - Mas, até onde será que vai essa seca? - Ao que a magra prontamente responde: - Aonde eu vou não te interessa, filho #&*#!@#**$¨*; eu é que pago minha passagem; tu não tens nada a ver com a minha vida!!!
De fato,  o povo daqui não é exatamente carismático ou bem-humorado, o que não impede que renda alguma  piada às vezes...

Ser professor?... (2)

Minha hipótese é que esse desinteresse pela profissão - e desprestígio dela -  vem daquela ideia (apedeuta) de que se trata de um sacerdócio. Sacedócio literalmente significa "dom divino"; portanto, é uma atividade que requer abnegação, tolerância com os resistentes, descrentes e desinteressados, dedicação total (total mesmo) e, obviamente, pouquíssimo ou quase nenhum retorno material, financeiro.
É uma ideia antiquada, vocês poderão dizer, mas é ou não é uma ideia antiquada que serve perfeitamente bem aos propósitos dos empregadores da educação - sejam os da rede privada ou os do governo? Porque, sendo ou não uma ideia para lá de obsoleta, é isso que se cobra dos professores: muito trabalho, muita tolerância (revestida pelo nome de compreensão, domínio de classe, carisma com as turmas...), aceitação total de uma política que concede uns reajustes que chegam a constranger de tão pequenos.
E o pior é que essa ideia está, de alguma forma, introjetada na sociedade, via mídia talvez, que quase todo mundo acha que "é assim mesmo", que "sempre foi assim e não vai mudar", enfim, aqueles comentários senso comum. Então, penso eu,  é por isso que muita gente - governantes defendem isso, por sinal - quando querem ser bem vistos - acredita que escola deve ter turno integral, oferecer várias refeições, não "traumatizar" os alunos com reprovação ou notas que possam humilhá-lo, e coisas assim.
Eu penso o seguinte - para encerrar  este texto de uma vez:
- professor não é sacerdote (quem quiser ser, que se dedique a outra carreira); é um profissional que merece o mesmo respeito - em todos os aspectos - que qualquer outro;
- escola não é clube nem creche: é um espaço de educação, de aprendizado, de crescimento;
- escola não é restaurante bandejão: é lamentável, vergonhoso, que muitas famílias tenham que  mandar os filhos para o colégio para eles se alimentarem! Deve haver políticas públicas de fomento ao emprego para que as pessoas tenham a dignidade de comprar sua comida - e não recebê-la via programas assistenciais;
- avaliaçao e (eventualmente) reprovação fazem parte de qualquer processo de  formação. Tirar isso da escola é transformar o processo de ensino-aprendizado numa brincadeira - coisa que não é, mas na qual está se transformando.
Era isso.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ser professor? É bem capaz...

A proposta  de redação do vestibular da UFRGS deste ano trouxe para  discussão um assunto árido, para dizer o mínimo: por que os jovens têm cada vez menos interesse em ingressar em cursos que formam para a carreira docente? O tema foi imperativo: "avalie por que a profissão de professor se encontra desprestigiada entre os jovens",  e mostrou tabelas com os índices de ofertas de vagas e números de candidatos  nos anos de 2005 e 2011, período em que caiu pela metade o número de interessados nos cursos de licenciatura das mais variadas áreas (os que formam docentes). Trouxe, ainda, dados de uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas, de 2009, em que 1501 jovens do Ensino Médio  do Rio de Janeiro manifestaram-se sobre a "atratividade da profissão de professor": 67% deles disseram "não, ser professor não tem nenhum  atrativo".
Quem elaborou a proposta colocou milhares de jovens (cerca de cinquenta mil candidatos prestam vestibular na UFRGS) a pensar num assunto sobre o qual  - provavelmente - a maior parte deles nunca pensou. Alguns, na hora da prova, devem ter pensado, imagino: "Ser professor?  É bem capaz que eu vá querer ser; não quero ser profe pela mesma razão que não quero ser balconista: ficar atendendo aluno e ganhar uma merreca....". No entanto, esses jovens, recém saídos do colégio  (alguns ainda no colégio), tiveram que pensar alguma coisa para dizer, e alguma coisa minimamente inteligente e bem articulada - além de gramaticalmente correta, pois passar na prova de redação não é fácil - eu sei porque fui avaliadora da UFRGS por 14 anos.
A redação da UFRGS é uma prova em que, dado um tema, o candidato deve defini-lo - ou seja, reproduzir a questão ali colocada, mas com suas palavras; analisá-lo - fazer uma reflexão acerca dele, relacionando-o a aspectos teóricos ou práticos da realidade, e concluir com alguma coisa nova, demonstrando sua capacidade de autoria - ou seja, fugindo do clichê e do senso comum.  Vejam só o que foi a bomba que puseram nas mãos desses guris!!
Fico imaginando alguns indignados: "putz, que sacanagem, quem vai corrigir isto é um professor; que que eu vou dizer?...". Também imagino os professores de Educação Básica, ao verem a proposta,  mal disfarçando um sorrisinho irônico: "he he he, falem mal de nós agora!"...
Piadas à parte, o certo é que esse tema causou  - certamente -  algum mal-estar; no mínimo, algum desconforto relacionado com alguma questão ética. Muitos dos que estavam ali fazendo a redação foram, devem ter sido sinceríssimos ao dizer o óbvio:  que professor trabalha muito, ganha pouco, não tem nenhum prestígio na sociedade; costuma ser visto como um pobre diabo que leva desaforo de todo mundo: de  aluno, de pai de aluno, de patrão, no caso do professor da rede privada; da mídia, que adora culpar o professor pelo fracasso escolar, pela evasão, pelo baixo IDH do Brasil. Sim, muitos sentiram-se desafogados dizendo o que todo mundo sabe; entretanto, esses muitos aí  - quero crer - devem ter ficado com uma ideiazinha  perturbando: "cheguei até aqui guiado por professores e, se eu entrar na universidade, vou sair com um diploma, mas vou passar antes por vários professores, esses que eu chamei de pobres diabos... Bah, que chato...".
Que coisa, não? Mas, al fin y al cabo, por que é mesmo que a profissão de professor se encontra desprestigiada entre os jovens? O aspecto remuneração não é motivo, pelo menos está longe de ser o principal; salário de professor sempre foi baixo (aqui e em quase tudo quanto é lugar). Além do que, há profissões com remuneração inferior à de professor que não sofrem essa falta de prestígio. A de  jornalista é um exemplo: o piso da categoria, em Porto Alegre, é em torno de R$1500,00, mas quem é que diz que ser jornalista não é interessante? Ah, mas tem o status, o glamour - ou seja, o prestígio (para fugir dos estrangeirismos).Ora, status têm a Fátima Bernardes (e o marido), o Caco Barcellos, o Boechat, o Bial, o Tatata Pimentel, o David Coimbra, o Juremir - sem avaliações, aqui, sobre a qualidade do que fazem, escrevem e dizem. São figuras famosas, cujas imagens extrapolam o simples jornalismo, o cotidiano das salas de redação de jornais.
Mas, enfim, por que os jovens não querem saber de serem professores? Se tiverem alguma ideia, ajudem a elucidar a questão.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Lista

Li uma vez  num blog - acho que era no do L.A. Fischer, citando alguém, por sua vez - que uma das facilidades de se manter um blog é que, quando não se tem o que escrever, pode-se fazer e postar uma lista de coisas. Bom, alguma verdade deve haver aí, pois a Maitena ficou famosa (e rica) publicando... listas! Para quem não sabe, Maitena é aquela argentina que ficou famosa com seu livro "Mujeres alteradas" (depois vieram outros, mas esse é o melhor); é divertidíssimo, mas é todo escrito em forma de listas.
Bom, como costumam dizer que sou um ser de humor instável (tenho certeza de que é um eufemismo amigo para mal-humorada mesmo), vou começar minha lista - a la Maitena -  pelas 7 coisas que costumam me irritar:
1 - Falta de cortesia: em outra vida, devo ter tido aulas de etiqueta desde pequena, pois não suporto falta de educação, e digo cortesia em questões básicas: cumprimentar na chegada, dar tchau na saída, pedir licença, desculpas; comer com os talheres direitinho (sem aquela faca armada como para atacar quem olhar pro bife do comilão), não usar palito de dente, dar preferência às mulheres e aos idosos numa porta. Gente, ser educado é elegantésimo - sou capaz de me apaixonar por um homem por só ele abrir a porta do carro para mim (taxistas não vale; eu só ando de táxi, já teria me apaixonado por toda a frota de PoA).
2 - Olhar "carregado", ou seja, gente que, sem me conhecer, na rua, num elevador ou numa sala de espera, fica me olhando de cima a baixo. Que é isso? Não consegue esconder a curiosidade? (Pode ser frescura, mas fico com a impressão de ter sido coberta com um manto de energia ruim...) De novo, a educação: ser discreto.
3 - Excesso de dengo em público, por exemplo:  gente que fala gemendo (estilo Cláudia Tajes): sem comentários.
4 - Mensagens eletrônicas com texto cheio de abreviaturas: preguiça de escrever ou inabilidade mesmo?
5 - Mensagens eletrônicas (de novo)  sem assunto, com um link (pesadíssmo, gigas e gigas) e um textinho: "Não deixem de abrir, é superlegal!" (ou "importantíssimo"). Geralmente, vêm de amigos... Custava dizer do que se trata para eu poder decidir se quero abrir ou não?
6 - Expressões como "pessoa humana", "beijo no coração" e outros chavões que não lembro agora, mas que aparecem  nas canções sertanejas e nessas choradeiras que chamam de pagode (que, por sinal, me irritam muito também quando tenho a tristeza de ter que ouvir).
7 - Uma pergunta apedeuta  (como diria meu querido Paulo Guedes) que ouvi várias vezes (de professores universitários): "tu trabalhas ou só dás aula?"; também, sem comentários.

Por que só sete? Porque são só coisas que me irritam, que testam minha capacidade de tolerância com meus semelhantes. Se fosse uma lista de coisas que me mortificam, que me arrasam,  eu diria que detesto ver mulheres papeleiras grávidas puxando carrocinhas cheias de lixo pelas ruas desta cidade (com mais um ou dois filhos no carrinho); detesto ver que, a praça, na esquina da minha casa, no Centro de PoA, está cheia de crianças viciadas, e ninguém faz nada; detesto a sujeira das ruas do Centro; detesto  - porque não dirijo - ter que andar de táxi (e pagar caro por isso), visto que o transporte público é muito ruim; detesto a péssima qualidade da programação da tv aberta... Enfim, a lista seria enorme, mas isto é um blog, não um panfleto.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ainda sobre aquele assunto

O tema dos professores que não se solidarizam com os colegas demitidos não me saiu da cabeça - ainda mais porque (deve ser por isso exatamente) passei a tarde revisando um texto de Sociologia sobre como as ideias do Fordismo-Taylorismo se aplicam, não só às relações de trabalho, mas também a nossa vida cotidiana e a nossos relacionamentos. Pronto: era isso! O imediatismo, a rapidez e a impessoalidade saíram das fábricas para serem também um modo de vida.
Aí, a minha ex-aluna e amiguinha Ísis me recomendou um texto do Max Gehringer sobre esse assunto: a frustração que os que saem de uma empresa sentem quando percebem que seus (ex) colegas não são mais seus amigos. Diz o Gehringer, na sua visão RH (detesto RH e suas teorias), que não se deve confundir relações profissionais com amizades pessoais. Bom, então, e quando uma relação profissional é uma amizade pessoal? E quando a gente devota afeto, admiração, essas coisas que a gente tem pelos amigos? E, vá lá, eram só relações profissionais, tudo bem - mas qual é o problema de se agir humanamente com o colega? 
Não estou reduzindo o problema a professores, mas insisto neles porque, primeiro, eu sou professora há 20 anos e conheço esse universo; segundo, porque (representantes das outras profissões que me desculpem qualquer exagero no enfoque) um professor sempre deixa um pouco da sua vida numa instituição de ensino (ah, nas outras profissões também é assim? ok, mas quero seguir falando dos profes e suas agruras). Poucas profissões (creio que médicos também, talvez) demandam tanta energia física, mental e emocional como dar aulas: lidar com gente (muita gente ao mesmo tempo geralmente) é extremamente estressante. Um médico recebe, quando não a  gratidão de seus pacientes tratados, o respeito por seu conhecimento e sua capacidade de diagnosticar, tratar, curar; um professor, raramente. O retorno se dá na crença de haver feito bem o trabalho, de haver partilhado conhecimento, de ver - anos depois - ex-alunos bem encaminhados, tocando suas vidas. No durante, no dia a dia, a gente dá aulas, muitas vezes, para vários que conversam como se em bar (já tive a impressão, ao passar por um grupinho desses na aula, de que iam me pedir uma Polar), moças que lixam as unhas (na sala de aula, quero dizer), rapazes que ouvem música nos seus fones de ouvido  disfarçados na cabeleira, outros que estão com seus laptops abertos à frente, mas conversando no msn ou olhando o orkut de alguém e, sim, claro, para uns dois ou três interessados. Quantas vezes preparei textos ótimos, que ninguém leu ou, se leu, nem deu bola? Quantas vezes fiquei horas elaborando um exercício para avaliar um conteúdo que ninguém estudou porque não valia nota? Quantas vezes falei apaixonadamente sobre um assunto da matéria e, ao pedir comentários dos alunos, ouvir apenas "isso cai na prova?"  ou  "vai ter aula dia tal?"? Quantos finais de semana deixei de brincar com meu filho para corrigir provas, elaborar aulas, produzir materiais? Tenho essa profissão  porque gosto; o que não gosto é que confundam escola com empresa - porque não é; aluno com cliente - porque não é, e professor com executivo/marqueteiro da instituição - porque não é; eu, ao menos, nunca vou ser. E ao diabo com Fordismo-Taylorismo nos relacionamentos!

Poemas e livros

Quando vim morar em Porto Alegre, há quase 20 anos, ficava encantada com as novidades - sobretudo na área cultural. Eu vinha de Pelotas, uma cidade que já teve uma vida cultural muito rica, mas  - na época em que eu estava lá - cultura era só no meio universitário e olhe lá. De modo que vir a PoA era ir a salas de cinemas novas, shows bacanas, palestras, encontros literários (meu deus, como a gente tinha tempo para frequentar tudo isso...).
Lembro da primeira vez que vi os poemas nos ônibus: que ideia bárbara!! Nunca esqueci o haicai do Silvestrin: Velhinha na janela / Todo mundo que passa / É visita pra ela. E os poemas continuam até hoje, já fazem parte do layout dos ônibus. E agora alguém teve outra ideia maravilhosa: as estantes de livros nas paradas de ônibus! Fiquei sabendo que houve depredação de uma dessas estantes - e justamente na Cidade Baixa, bairro que já foi frequentado por gente bem educada, politizada, do bem.
É maravilhosa a ideia das estantes nas ruas, mas é triste essa sensação de "não vai dar certo...". Vamos ver.

Professor esquece rápido?

Uma das grandes decepções que tive foi, quando mais jovem, fui demitida de uma escola em que trabalhava há anos. Claro, ser demitida é decepcionante  (e o pior é aquela dúvida: a demissão foi injusta ou eu não sou competente mesmo?... ).
Mas a "grande" decepção que eu mencionei não foi da demissão em si; claro que sofri com isso também, mas a história aqui é outra. Eu me decepcionei terrivelmente com meus colegas. Durante os anos em que trabalhei naquela escola, fiz amigos de quem gostava muito. Nós nos víamos todos os dias, trocávamos impressões sobre tudo (os períodos de recreio, nas escolas, são momentos catárticos; 15 minutos em que abordam temas que vão da última entrevista do Maffesoli até a novela de ontem  à noite), saíamos juntos para os barzinhos - ou seja, eu acreditava que tinha um grupo, naquele lugar, ao qual pertencia. Acreditava, mas não.
Quando fui demitida, fiquei esperando os telefonemas de consolo dos meus amigos-colegas. NINGUÉM telefonou. Até encontrei esses colegas (hoje são só ex-colegas) depois, e houve cumprimentos afetuosos, perguntas (como é que tu tá? soube que tás trabalhando em tal lugar... te casaste de novo?...), eu respondia a tudo, perguntava também, abraçava também, mas com um diabo vingativo na cabeça me mandando dizer: "traidores", "falsos amigos"...
Depois disso, trabalhei em vários outros lugares - professor da rede privada de ensino é uma espécie de peão da educação: divide suas 50 e poucas horas semanais de trabalho  (em média) em duas ou três escolas, ou mais, ao mesmo tempo. E aprendi a tomar o cuidado de, ao saber da saída de algum colega da instituição,  mesmo não tendo muita relação com ele ou ela, telefonar e tentar transmitir um pouco de solidariedade nesse momento, que é, costuma ser  de grande solidão.
Lembrei desse episódio da  demisão  - e da ausência de companheirismo de meus colegas -  dias atrás. A M., minha amiga de tempos (por sinal, fizemos amizade em uma escola em que trabalhamos juntas, foi minha primeira escola), foi demitida da faculdade em que lecionava e, também, na tristeza por que estava passando, aguardou o contato dos colegas com quem ria nos intervalos (ela é uma figura divertida e alegre); claro que ninguém ligou. Ela é que parou de esperar o compadecimento dos já ex-colegas e  telefonou para alguns, não para contar da demissão (todos sabiam), mas para dizer que estava procurando trabalho e que se alguém soubesse etc.
E aqui fica minha dúvida-reflexão: o que será que acontece? O professor esquece rápido os amigos? Inconscientemente (ou não) desconsidera quem deixa de ser colega? Sente culpa pelo colega que foi demitido (já que ele não foi)? Sei lá, só sei que dói quase tanto quanto a própria demissão.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Apresentação ou para que um blog?

O texto escolhido para primeira postagem do blog é também uma justificativa - não que se precise de uma para se ter um blog.  É que o  trecho de Procura da poesia, de Drummond, é um convite ou apelo à intimidade com a palavra, intimidade essa que eu persigo, creio, desde que aprendi a ler e cuja busca faz parte da minha vida, como professora de Língua Portuguesa e Literatura, como amante de literatura e como, apenas, uma pessoa que continua (sempre) querendo entender o mundo.
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
há calma e frescura ma superfície intata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio"


(Procura da poesia- Drummond)