domingo, 23 de janeiro de 2011

Ser professor?... (2)

Minha hipótese é que esse desinteresse pela profissão - e desprestígio dela -  vem daquela ideia (apedeuta) de que se trata de um sacerdócio. Sacedócio literalmente significa "dom divino"; portanto, é uma atividade que requer abnegação, tolerância com os resistentes, descrentes e desinteressados, dedicação total (total mesmo) e, obviamente, pouquíssimo ou quase nenhum retorno material, financeiro.
É uma ideia antiquada, vocês poderão dizer, mas é ou não é uma ideia antiquada que serve perfeitamente bem aos propósitos dos empregadores da educação - sejam os da rede privada ou os do governo? Porque, sendo ou não uma ideia para lá de obsoleta, é isso que se cobra dos professores: muito trabalho, muita tolerância (revestida pelo nome de compreensão, domínio de classe, carisma com as turmas...), aceitação total de uma política que concede uns reajustes que chegam a constranger de tão pequenos.
E o pior é que essa ideia está, de alguma forma, introjetada na sociedade, via mídia talvez, que quase todo mundo acha que "é assim mesmo", que "sempre foi assim e não vai mudar", enfim, aqueles comentários senso comum. Então, penso eu,  é por isso que muita gente - governantes defendem isso, por sinal - quando querem ser bem vistos - acredita que escola deve ter turno integral, oferecer várias refeições, não "traumatizar" os alunos com reprovação ou notas que possam humilhá-lo, e coisas assim.
Eu penso o seguinte - para encerrar  este texto de uma vez:
- professor não é sacerdote (quem quiser ser, que se dedique a outra carreira); é um profissional que merece o mesmo respeito - em todos os aspectos - que qualquer outro;
- escola não é clube nem creche: é um espaço de educação, de aprendizado, de crescimento;
- escola não é restaurante bandejão: é lamentável, vergonhoso, que muitas famílias tenham que  mandar os filhos para o colégio para eles se alimentarem! Deve haver políticas públicas de fomento ao emprego para que as pessoas tenham a dignidade de comprar sua comida - e não recebê-la via programas assistenciais;
- avaliaçao e (eventualmente) reprovação fazem parte de qualquer processo de  formação. Tirar isso da escola é transformar o processo de ensino-aprendizado numa brincadeira - coisa que não é, mas na qual está se transformando.
Era isso.

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